Inflação em alta deve puxar Selic em 2021. Saiba o que fazer na renda fixa - Estadão E-Investidor - As principais notícias do mercado financeiro (2024)

  • Como o IPCA do ano está em 2,99% e a Selic por enquanto continua fixada em 2% ao ano, na prática os investimentos pós-fixados entregam juro real negativo
  • Por outro lado, os títulos de renda fixa prefixados e os atrelados à inflação entregam retornos maiores, pois acompanham a curva de juros de longo prazo. Mas têm prazos longos, e ao fazer o resgate antecipado o investidor poderá perder dinheiro
  • Por isso, o ideal é compor uma estratégia diversificada, de acordo com a necessidade de liquidez do investidor. A reserva financeira fica na renda fixa pós-fixada, e as perdas causadas pelo rendimento negativo dela serão compensadas pelos ganhos dos outros papéis no longo prazo

O Banco Central fez sucessivos cortes na taxa básica de juros, a Selic, porque a economia estava deprimida e a inflação permanecia baixa. Mas o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) acelerou em outubro para alta de 0,94%, maior salto para o mês desde 1995. Essa pressão inflacionária inesperada provocou uma inversão de expectativas no mercado. A manutenção da taxa básica de juros em patamar tão baixo deixa de ser plausível para 2021, sob risco de descontrole dos preços.

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Nesta quarta-feira (28), na penúltima reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 2%. Embora a expectativa ainda seja de não alteração da taxa até o final de 2020, o mercado já começa a vislumbrar um aumento entre 0,25 e 0,5 ponto percentual no início do ano que vem. O próximo e último encontro de 2020 ocorre em 9 de dezembro.

“Já está embutida na projeção do mercado para a Selic em 2021, a hipótese da preservação da regra do teto de gastos. Mas não é algo escrito na pedra, isto é, não quer dizer que o mercado tenha plena convicção desse cenário”, diz Zeina Latif, consultora econômica.

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Diante de uma perspectiva de elevação da taxa Selic, a renda fixa será beneficiada, certo? A resposta não é tão simples assim. Em primeiro lugar, porque o que conta para o investidor é o rendimento real, após descontada a inflação, e por enquanto ela não dá sinais de que vai desacelerar. A previsão do boletim Focus para o IPCA do ano era de alta de 2,05% há quatro semanas, subiu para 2,65% e já está em 2,99%.

Leia também: “A taxa Selic deve continuar em 2% por até três anos”, diz João Beck

Além disso, nem sempre é preciso que a taxa básica de juros efetivamente suba para que os juros pagos pelos títulos públicos aumentem. A mera expectativa de que os juros subirão no futuro já produz esse efeito.

“O que precifica o título público é a curva de juros. Se existe essa expectativa de alta, isso já é replicado no preço”, explica Fábio Macedo, diretor comercial da Easynvest.

Para ilustrar como a atual pressão inflacionária está impactando o prêmio dos títulos públicos, ele cita o Tesouro IPCA com vencimento em 2045 – que, além da variação da inflação, paga um cupom fixo de juros. “Um mês atrás, esse cupom era de 3,84% ao ano. Passou para 4,02% há duas semanas e hoje está em 4,17%”, diz.

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Esse aumento das taxas, causado pela curva de juros futura, beneficia os títulos indexados ao IPCA e os prefixados, ajudando a compensar a inflação. Já os papéis pós-fixados não têm a mesma sorte.

Impacto é mais negativo nos títulos pós-fixados

Se a combinação de juros baixos e inflação ascendente é maléfica para a renda fixa como um todo, os investimentos que mais sofrem com ela são os pós-fixados, que têm o retorno diretamente atrelados à variação da taxa Selic. Como o IPCA do ano está em 2,99% e a Selic por enquanto continua fixada em 2% ao ano, na prática esses investimentos entregam juro real negativo. E essa dinâmica não deve mudar em 2021.

“Se a inflação continuar subindo, será necessário elevar a taxa de juros para equilibrar isso, para evitar uma disparada da inflação. Mas, na prática, a diferença entre o IPCA e a Selic não vai mudar muito”, diz Carlos Castro, planejador financeiro CFP pela Planejar. “Ou seja, no curto prazo, a renda fixa pós-fixada continuará não conseguindo manter o poder de compra do investidor.”

Por outro lado, os títulos de renda fixa prefixados e os atrelados à inflação (que pagam a variação do IPCA, mais um cupom prefixado de juros) conseguem entregar retornos maiores, pois acompanham a curva de juros de longo prazo. Por isso, eles são menos prejudicados que os pós-fixados no atual cenário. Não é difícil encontrar prefixados para 2026 pagando taxas de 7% ao ano.

O problema é que esses papéis têm prazos mais longos e só garantem a rentabilidade combinada se forem carregados até o vencimento. Se resgatá-los antecipadamente, o investidor correrá o risco de perder dinheiro, por conta dos efeitos da marcação a mercado.

Por essa razão, para a alocação da parcela do capital que precisa estar disponível a qualquer momento, como a reserva de emergência, não há como escapar da renda fixa pós-fixada. Mesmo que, neste momento, ela possa ter rendimento negativo.

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A solução é montar uma estratégia diversificada, dividindo o montante de acordo com a necessidade de liquidez do investidor. Apenas o volume potencialmente necessário no curto prazo deverá ficar na renda fixa pós-fixada. Já as parcelas de médio e longo prazo podem ser divididas entre títulos prefixados e indexados à inflação, que oferecem melhor perspectiva de retorno.

“Mesmo que a parcela de curto prazo tenha resultados eventualmente negativos, o resultado global da carteira será positivo e compensará essas perdas”, afirma Castro.

A renda fixa não morreu e ainda tem boas oportunidades

Mesmo que seja comum ouvir por aí aquela máxima de que “a renda fixa morreu”, os especialistas destacam que ela ainda contempla boas oportunidades de retorno no longo prazo, sobretudo nos títulos prefixados e atrelados à inflação.

“Para quem está começando a investir agora ou quer estruturar melhor a carteira, um título público que pague a variação do IPCA, mais juros de 4,17% ao ano, com risco de crédito baixíssimo, é bastante competitivo”, avalia Macedo.

Para a parcela necessária no curto prazo, ele indica CDBs de liquidez diária, que trazem menos volatilidade que o Tesouro Selic. Na medida em que os prazos aumentam, abre-se um leque maior de possibilidades. Porém, dentro da renda fixa, ele tende a preferir os papéis atrelados à inflação.

“Havendo uma inclinação maior da curva de juros, o título prefixado comporta um risco maior em caso de venda antecipada. Já no Tesouro IPCA, o cupom fixo de juros também está sujeito a risco, mas pelo menos o investidor está garantido quanto à variação da inflação”, compara o diretor da Easynvest.

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Leo Bernardes, especialista em investimentos da Speed Invest, reconhece que o maior desafio para o investidor da renda fixa é conseguir alinhar corretamente as alocações com a necessidade de liquidez. Nem sempre é fácil carregar os títulos até o vencimento.

“Para quem tem cinco anos para travar o dinheiro, o que vale mais a pena: investir em títulos do Tesouro ou aplicar em um fundo com uma boa gestora?”, indaga. “Tudo vai depender do perfil de risco de cada um. Os mais conservadores tendem à renda fixa e quem tem mais apetite pode diversificar.”

Ele aponta que o cenário da renda fixa ficará mais favorável a partir do final de 2022. “De acordo com projeções do boletim Focus, a taxa básica de juros estará em 4,50% ao ano e a inflação, em 3,50%. Antes disso, o cenário ainda será de IPCA superior à Selic. Temos que esperar a Selic assumir a dianteira novamente”, diz.

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Inflação em alta deve puxar Selic em 2021. Saiba o que fazer na renda fixa - Estadão E-Investidor - As principais notícias do mercado financeiro (2024)

FAQs

Como a Selic afeta a renda fixa? ›

A redução da Selic favorece ativos de maior risco, como a renda variável, que tende a receber mais recursos à medida que o investidor aceita tomar mais risco em troca de melhores rentabilidades. Assim, diante do cenário atual, a renda fixa continua atrativa?

Qual a relação entre a taxa Selic e a inflação? ›

A Selic é uma das ferramentas usadas pelo Banco Central para controlar a inflação, portanto ela afeta diretamente o IPCA. Um exemplo prático: quando a Selic aumenta e o acesso ao dinheiro (crédito, empréstimos, financiamentos…) fica menor, o consumidor para de fazer gastos maiores.

Como a Selic é usada para controlar a inflação? ›

Por exemplo, quando o IPCA está alto, o Copom tende a aumentar a Selic. Assim, o crédito fica mais caro e o consumo diminui, reduzindo a inflação. Já em um momento que o Governo queira estimular o consumo, o Copom reduz a Selic. Com isso, o crédito fica mais acessível e a tendência é as famílias consumirem mais.

Quanto mais baixa a taxa Selic melhor será a remuneração da renda fixa? ›

Como o valor da chamada “Taxa CDI” é sempre muito próximo da Selic, costuma seguir suas oscilações. Isso significa que a Selic mais baixa faz cair o CDI, o que torna seus investimentos de renda fixa menos rentáveis.

Como ficam os investimentos com a alta da Selic? ›

Quando ela é elevada, a tendência é de que empréstimos e financiamentos fiquem mais caros – ou seja, que bancos e outras instituições financeiras cobrem juros mais altos nessas operações. Já quando a Selic diminui, acontece o movimento contrário: os juros do crédito ficam mais baratos.

Quando a taxa Selic está alta o que significa? ›

A alta da Selic é indicação de um cenário de inflação em alta, já que o objetivo da elevação da taxa é o desaquecer a economia, usando canais como o crédito mais caro para frear o consumo e a produção, e maiores retornos para incentivar investimentos. Assim, reduzindo a pressão sobre a alta de preços na economia.

Quando a Selic cai a inflação aumenta? ›

Taxa Selic e a Inflação

Como já foi dito, os dois índices sofrem influência mútua e inversamente proporcional. Assim como o CDI, a inflação medida pelo IPCA serve como indexador da rentabilidade de alguns investimentos de renda fixa, como o Tesouro Direto. Quando a taxa Selic cai, a inflação tende a subir.

Porque aumentar a Selic diminui a inflação? ›

Taxa Selic baixa para a inflação

O objetivo do Banco Central, ao aumentar a Selic, é manter a inflação controlada. A partir do momento que os preços ficam mais controlados, não há motivos para aumentar os juros. É nessa hora que o Banco Central começa a reduzir a Selic.

Qual a influência da taxa Selic nos investimentos? ›

A taxa Selic também pode influenciar os investimentos em ações. A redução da Selic faz com que investimentos atrelados à taxa básica deixem de ser tão interessantes e faz com que outros tipos de renda variável, como as ações, voltem a se tornar atrativos, movimentando a bolsa de valores.

Qual é o melhor investimento hoje em dia? ›

De acordo com Bruno Mori, para quem se questiona qual o melhor investimento hoje para iniciantes, o campeão nestes quesitos segue sendo o Tesouro Selic. “O que você tem a rigor maior rentabilidade é o Tesouro Selic, que te paga a taxa básica de juros mais um adicional”, explica o economista.

Qual seria a taxa Selic ideal? ›

Selic em 9% seria ideal para controlar preços e atrair capital, diz economista. A Selic — taxa básica da economia — precisa ser elevada a 8% ou 9% ao ano para frear a escalada da inflação e atrair capital estrangeiro, na opinião da economista e professora do Insper Juliana Inhasz.

O que o Banco Central faz para controlar a inflação? ›

A estabilidade dos preços preserva o v​alor do dinheiro, mantendo o poder de compra da moeda​. ​Para alcançar esse objetivo, o BC utiliza a política monetária, política que se refere às ações do BC que visam afetar o custo do dinheiro (taxas de juros) e a quantidade de dinheiro (condições de liquidez) na economia.

Qual a previsão da taxa Selic para 2024? ›

Selic. Sobre as projeções para a taxa básica de juros (Selic), o Boletim Focus trouxe uma alteração importante: a estimativa para 2024, que permanecia estável há 15 semanas, passou de 9,00% para 9,13%.

Quem se beneficia com a Selic baixa? ›

Setor de bens de consumo: Com juros mais baixos, o crédito ao consumidor tende a ficar mais barato, estimulando o consumo e impulsionando empresas do setor de varejo, bens de consumo e serviços. A redução da taxa Selic pode favorecer o aumento das vendas e a melhoria do desempenho financeiro dessas empresas.

O que fazer se a Selic cair? ›

Confira o que analistas recomendam para os investimentos após a queda da Selic:
  • Bolsa: setores defensivos.
  • Bolsa: ações de crescimento.
  • Renda fixa prefixada.
  • Crédito privado.
  • Fundos imobiliários.
  • Fundos de investimento.
Dec 13, 2023

O que é Selic e para para serve em aplicações de renda fixa? ›

A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Por isso, ela é usada no mercado interbancário para financiamento de operações diárias, com lastro em títulos públicos federais. O significado da sigla é simples: Sistema Especial de Liquidação e Custódia.

Porque a renda fixa está caindo? ›

A dinâmica é simples. Se a taxa de um ativo sobe, o seu preço cai. Isso porque, se novos ativos são emitidos com taxas maiores, os que já estão na mão dos investidores com retornos mais baixos ficam desvalorizados no mercado – se o detentor decidir vender, portanto, arcará com aquele prejuízo.

Como a taxa Selic interfere nos investimentos? ›

A taxa Selic é taxa que o governo paga quando pega dinheiro emprestado. Determinada pelo Copom, ela vira o mínimo que as aplicações podem oferecer, por ser a taxa sem risco de um investimento. Usada para controlar a inflação e a segurança bancária, ela é essencial para o controle econômico nacional.

Como a queda da Selic impacta os investimentos? ›

Juros em queda = investimentos prefixados

Se a previsão da taxa Selic é de queda, você pode investir em um título prefixado com 10% de retorno e vencimento até 2025. Assim, caso a Selic fique entre 9% e 7%, sua rentabilidade estará garantida em 10% ao ano até o vencimento do título.

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Author: Pres. Carey Rath

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